terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O MPLA e a esquerda democrática (1)

O MPLA, disse-o o seu Presidente na abertura do VIº Congresso, mantém-se no campo da “esquerda democrática”. Antes de mais este chavão, e sem pormos em causa a validade e a consistência dos argumentos dos seus mentores originais que não nasceram em Angola nem são angolanos, é actualmente muito utilizado como “cobertura” (para não perderem totalmente a face) por vários dos antigos marxistas do tempo do partido único. Eles tiveram de mudar de camisola e de barco por força dos ventos que começaram a soprar no mundo com a queda do Muro de Berlin em 1989, depois de M.Gorbatchev ter dado inicio à sua “perestroika/glasnot” na antiga URSS, com que viria a afundar completamente o poderoso Titanic eslavo. Os novos “esquerdistas-democráticos” surpreenderam, entretanto, muitos observadores pela demasiado rápida absorção que souberam fazer de alguns dos fundamentos da economia de mercado, sendo o principal deles, o enriquecimento pessoal. Angola é neste âmbito um verdadeiro “case-study”, pois como já disse um conhecido economista local, o modelo que está a ser implementado entre nós é completamente atípico, se tivermos como referência o paradigma da economia de mercado. O referido analista disse que entre nós o que existe é uma espécie de economia de amigos do mesmo bairro. Em Angola e à semelhança do que acontecia no tempo do PT, o Estado mantém-se o principal motor da economia, quer pela via do OGE, quer pela intervenção das empresas públicas, ao ponto da principal delas, a Sonangol, se ter transformado já no segundo Estado. Em abono da verdade a Sonangol, acaba por ser, em matéria de importância estratégica, o primeiro Estado, se aprofundarmos um pouco mais a análise qualitativa da conjuntura. Sem qualquer mérito pessoal da generalidade dos seus integrantes, nova burguesia (também conhecida como os novos-ricos) que está a surgir e que já tem alguma consciência de classe, não tem qualquer passado ligado a posse de meios de produção/financeiros. De uma forma geral os actuais homens/mulheres mais ricos de Angola para além de terem uma forte ligação ao poder político pelas mais diferentes vias, incluindo as familiares, eram até bem pouco tempo cidadãos comuns, como todos os outros, pobres, remediados, desenrascados ou esquemáticos. A sua entrada para o clube local dos ricos deveu-se, sobretudo, à forma perversa e injusta como o Estado liderado agora por um MPLA que se auto-define como sendo da tal “esquerda democrática” tem vindo a fazer a distribuição do rendimento nacional, com base em critérios de fidelidade política.
(cont)
3 comentários: Anónimo disse... MAS esta denominação tem alguma classificação nos manuais das ciencias políticas?!!! Gostaria muito de saber qual é terá sido a reação do Líder do Bloco de Esquerda Português (Francisco Louçã), ao constatar que ele e o seu BE são da mesmíssima "família política" com o MPLA. Deve ter adorado!!!! É por essas e outras que a política é vista sempre com bastante "amor e carinho", tal como bem constatou o nosso GURU JES. 8 de Dezembro de 2009 12:30 Luiz Araujo disse... A orientação de esquerda do MPLA que constatei resume-se a sua tendência para andar em contra-mão violando as regras, alias essa sempre foi a única conduta a esquerda em que somos obrigados a reconhecer-lhe coerência 8 de Dezembro de 2009 14:20 Anónimo disse... Qual Esquerda qual que? o MPLA nunca teve identidade. è um saco de gatos. 8 de Dezembro de 2009 16:50