terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O MPLA e a esquerda democrática (2)

O grande problema interno que o MPLA tem de resolver, achamos nós, ainda não tem a ver com a definição exacta da mão pesada com que nos continua a governar, depois desses anos todos. Depois de tudo o que aconteceu com o desaparecimento da União Soviética, estar na direita ou militar na esquerda, já não tem o significado conflituoso que tinha no passado, embora as duas perspectivas politico-partidárias mantenham divergências importantes na abordagem das principais questões do nosso tempo, começando pela gestão da economia. Formalmente o MPLA abandonou o campo da esquerda totalitária que se afundou com a queda do Muro de Berlin em 1989, mas não se esqueceu dos seus aliados internacionais do passado comunista como o comprovam as suas actuais e dinâmicas relações com os comunistas cubanos, coreanos, russos, vietnamitas, chineses e por aí adiante. O MPLA não se esqueceu igualmente de outros “compromissos estruturais” do seu passado, que lhe estão no sangue e que, sobretudo em momentos de crise, surgem com alguma força preocupante traduzidos em comportamentos repressivos e manipuladores, que põem em causa os fundamentos do Estado de Direito. Numa altura em que as direitas renovadas e as esquerdas refundadas fizeram um pacto de silêncio com os manuais ideológicos da globalização, em torno de conceitos como a economia de mercado, eleições livres, boa governação, liberdade de imprensa e direitos humanos, o problema que o MPLA tem por resolver para já é a sua própria democratização interna. É um processo que vai conhecer neste Congresso mais um acto, que esperamos, sem alimentar grandes expectativas, venha desta vez a produzir no futuro imediato, frutos bem diferentes da habitual retórica com que o maioritário continua a vender a sua imagem no mercado da propaganda, da manipulação e da desinformação. O recente incidente com Marcolino Moco (tentativa de silenciamento) não é certamente o melhor presságio em relação ao surgimento de um MPLA mais democrático na sequência deste Congresso. Ficou uma vez mais claro que, pelo menos ao nível da velha guarda maquisard e da clandestinidade, a coabitação/tolerância com a diferença interna ainda está longe de ser um ponto forte na vida dos “camaradas”.
(Cont)