segunda-feira, 8 de março de 2010

Deliquência em Angola: Causas, Consequências e Modelos (2)

Não havendo diagnóstico sério, não pode haver soluções efectivas e eficazes que é o que está a acontecer em Angola em domínios nevrálgicos para o seu futuro, com destaque para a educação e o ensino, um dos temas transversais que mais reteve a nossa atenção nesta leitura pelos modelos de delinquência propostos pela nossa debutante escritora. Estamos muito mal. “Temos, segundo a autora, trinta anos de incompetência de professorado. Mesmo com os esforços do Governo em tentar debelar a situação através de reformas, o fenómeno foi-se tornando incontrolável, crescendo dia após dia o exército de professores incompetentes em paralelo com o “crescimento da jovem nação”. São conclusões como esta que não agradam quem apenas gosta que olhem para ele com os tais olhos bonitos e inócuos, convite que, liminarmente, EP faz questão de recusar ao longo dos dois tomos deste seu projecto com que faz a sua entrada no mercado angolano do livro. EP tem de facto uma grande e reconhecida experiência de vida profissional na área do ensino e da educação, onde exibe fartas credenciais, nomeadamente, na disciplina de Psicologia, de que é Mestre e que tem sabido partilhar com todos nós, graças à sua intervenção regular na rádio e na televisão. Desde logo devo felicitar EP pela frontalidade quase jornalística com que desceu aos infernos da nossa movediça realidade social feita de violentos e injustos contrastes, sem outros receios mas, provavelmente, com alguns exageros pelo meio, que são, sobretudo, visíveis na segunda parte da sua obra que é ficcionada e onde de forma algo temerária arrisca o género “short story”, que a crítica mais especializada poderá não lhe ser muito favorável, nesta sua primeira incursão pelo texto literário propriamente dito. Mas a ficção serve exactamente para isso, para deixarmos a nossa imaginação correr e discorrer livremente construindo com palavras escritas o que pensamos ser a melhor abordagem para retratarmos e transmitirmos determinada situação. Ficcionadas, as suas “short stories”, onde qualquer coincidência com a realidade é a mais pura verdade, levam-nos de facto ao mundo real que vivemos em Angola pela mão de uma autora irrequieta e impulsiva que não esconde a sua irritação diante das injustiças sociais, o racismo doméstico envolvendo pretos e mulatos, o obscurantismo, a violência doméstica, a criminalidade e por aí adiante, num verdadeiro e interminável cortejo de horrores para todos os gostos e feitios, que falam bem mal do que país real que estamos com ele. No primeiro livro, cujo conteúdo e a forma de apresentação está mais de acordo com a sua formação académica e experiência profissional, temos à disposição um conjunto valioso de informações e avaliações, onde se inclui um estudo sobre o alcoolismo em Angola, que nos permite uma aproximação objectiva das causas e das consequências da delinquência em Angola, sem, obviamente, esgotar um tema tão vasto e dinâmico. É um livro que apesar dos pesares, tendo em conta a dimensão dos problemas equacionados pela autora termina com soluções possíveis ao nível da socialização, incluídas no seu último capitulo que “Caminhos Então?” Antigamente, recorda, as pessoas, sobretudo as crianças e os jovens, eram mais criativos porque viam menos televisão e praticavam mais actividades em que exigia que o cérebro funcionasse. Hoje a mente pára nas imagens e não cria. É a rotina: bonecos animados para as crianças, novelas para as mães e futebol para os papás. Hoje, concluímos nós esta apresentação, estamos já diante de uma nova guerra que ainda é possível evitar e que se for para frente só terá um derrotado, por mais delinquentes que venham a ser postos fora de combate nos comunicados policiais. O derrotado será o próprio país, será a sua juventude, será a esperança numa Angola renovada. A manterem-se por mais tempo os actuais índices sociais ao nível desenvolvimento humano, Angola pode transformar-se numa fábrica e um cemitério de delinquentes. O mais grave é que todos nós, sobretudo os que têm poder, sabemos qual é a solução definitiva para os graves problemas sociais que o país enfrenta. Mas mais grave ainda é que este país tem recursos suficientes para fazer a este desafio. É mais uma vez a história do Rei vai Nu, que como sabem tem vindo a conhecer várias versões finais ao longo dos tempos mais recentes. Na versão angolana o Rei talvez contrate a nossa EP para ser a sua principal assessora para as questões sociais.