As últimas chuvadas que se têm abatido sobre a cidade de Luanda vieram uma vez mais chamar a atenção das autoridades locais para algumas prioridades em termos de obras públicas.
Tais prioridades, ao que parece, não estão a ser tidas em devida conta, ou pelo menos com a devida urgência, no âmbito da resolução dos principais problemas que afectam esta imensa urbe. Luanda é bom que se note, já alberga nas suas rebentadas costuras mais de dois milhões de almas vivas (?) com uma parte importante delas a sobreviver em condições particularmente desesperadas sobretudo no que toca à habitação e a qualidade do seu meio ambiente.
Por incrível que pareça a grande obra que o Governo fez em Luanda, estamos a falar do novo sistema de tratamento e adução de água, já se transformou na maior dor de cabeças dos habitantes do Popular e da Terra Nova.
O projecto em causa, é bom que se diga, está a agravar terrivelmente as suas condições de vida, com as monumentais fugas que se registam na canalização, se é que ainda se pode falar da existência de um sistema de distribuição de água naquelas zonas.
São fugas que estão a transformar as duas zonas residenciais, e não só, em verdadeiros pântanos, com toda a sua conhecida fauna, onde os mosquitos transportando o paludismo e outras maleitas, são os que voam mais alto em direcção ao interior das casas “ribeirinhas”.
O governo defende-se dizendo que era necessário injectar água na rede, para ver onde é que estavam os furos, após mais de vinte anos de inactividade.
Depois do “desastre” verificado com tal injecção, resta-nos agora saber como é que o governo pensa recuperar uma rede que parece ter mais quilómetros de furos do que de tubagens funcionais.
Um verdadeiro queijo suíço.
Resta-nos aguardar com bastante angustia, pois já há quem receie pelo passar do tempo, colocando no ar a hipótese do governo poder vir a precisar, para reparar a canalização furada, dos mesmos anos que necessitou para construir a estação do Golfe. Mais exactamente de vinte.
Posto isto, é caso para dizer que o investimento feito ainda não resultou, pelo menos para a “malta” do Popular e da Terra Nova, estando aí a generalizar-se um “sentimento de saudade” em relação aos “velhos” tempos dos baldes, das cisternas e dos chafarizes. Depois ainda há quem duvide daquela história onde o camponês diz que está tudo bem, só lhe faltando saber mesmo quando é que a independência vai terminar.
Prioridade para a drenagem
A observação sobre as prioridades e as oportunidades ganha nos dias que passam uma visibilidade ainda maior devido ao facto do Governo provincial de Luanda estar empenhado nesta altura na concretização de um conjunto de várias e “arreliadoras” obras públicas destinadas a resolver algumas situações de estrangulamento, sobretudo ao nível da circulação rodoviária.
Ora como se sabe os grandes problemas da cidade de Luanda estão antes de mais localizados ao nível do saneamento básico e da drenagem das águas residuais e pluviais.
Centenas de milhares de luandenses vivem hoje em condições que constituem um verdadeiro atentado à saúde pública. Estas condições agravam-se terrivelmente com a chegada da época das chuvas que de facto vêm por a nú todas as grandes fragilidades de Luanda de uma forma assustadora para quem tem sob sua responsabilidade a gestão da urbe.
Como resultado de uma importante obra de drenagem das águas pluviais e residuais, que é a vala do Senado da Câmara, que nunca mais é agendada com a prioridade que ela requer- que é a prioridade máxima- está neste momento ameaçada a sobrevivência do único estádio nacional de futebol que a capital possui, que é o estádio da Cidadela.
O referido estádio que ficou completamente alagado com uma das últimas chuvadas, tem igualmente parte das estruturas das suas bancadas gravemente afectadas a tal ponto que o governo já se viu forçado a interditar o segundo anel, devido às fissuras que começaram a surgir no betão armado.
Devido ao bloqueamento existente na vala do Senado da Câmara, os prejuízos para todos quantos vivem nas suas imediações são de facto enormes, quando as chuvas surgem com a impetuosidade que tem marcado as suas recentes visitas.
A situação desta Vala é apenas mais uma entre várias outras que actualmente infernizam a vida dos luandenses e de Luanda. A resolução da questão do saneamento básico é a grande prioridade, se a intenção for efectivamente melhorar a vida das pessoas e não apenas exibir mais umas obras com impacto visual, que acabam por ser “cosméticas”, tendo em conta as reais prioridades em termos de afectação de recursos.
As obras que se fazem hoje em Luanda acabam por trazer à tona a problemática da superfície e da profundidade. É na superfície que o governo está para já a trabalhar, enquanto se aguarda por um conjunto de outras intervenções que parecem tardar pela sua grande urgência.
Se Luanda continuar a registar novas cargas de água semelhantes as dos últimos dias, que é previsível que venha a acontecer, pois ainda se tem pela frente o mês de Abril, que é o famoso das chuvas mil, a capital vai certamente viver momentos muito dramáticos.