A nova Ministra da Comunicação Social, Carolina Cerqueira, tomou contacto na visita efectuada esta segunda-feira a Televisão Pública de Angola (TPA) com os mesmos problemas que já tinha constatado na sua anterior deslocação à RNA, incluindo a inexplicável dívida com a Segurança Social, o que torna os trabalhadores das duas emissoras ainda mais vulneráveis.
A lavagem de roupa suja na TPA não terá, entretanto, atingido o mesmo nível (intensidade) com que a ministra foi confrontada na agitadíssima "selha" da RNA, o que pode ser explicado por alguma desmobilização e cansaço dos trabalhdores, muitos dos quais tiveram de aguardar bastante tempo antes de serem ouvidos pela atenta e simpática Ministra.
Seja como fôr e na sequência do seu contacto com os trabalhadores da TPA, Carolina Cerqueira ainda conseguiu levar para casa algumas "pérolas" bastante preciosas em matéria de sujeira, que lhe foram legadas pela gestão anterior.
O destaque vai para a gestão patrimonial, pois também na TPA estava em curso uma estratégia selvagem de privatização que, ao que tudo indica, incluía o novíssimo e monumental Centro de Produção da Camama, que até agora ainda não está formalmente integrado no património da Televisão, o que no mínimo é muito estranho.
Sabe-se que a própria empresa chinesa que o construiu o Centro ainda não conseguiu fazer a sua entrega da primeira fase do grandioso e milionário projecto público.
Por falta de pagamento a empresa que estava a fiscalizar o projecto terá desistido do compromisso assumido.
Efectivamente tudo isto é muito estranho, para não usarmos outros qualificativos menos simpáticos e mais apropriados.
Depois de ter sido inaugurado pelo Presidente da República com um placard onde figurava a inscrição "Centro de Produção da Camama da TPA", a tabuleta viria, dias depois, a ser retirada da sua porta de entrada.
Esta retirada foi acompanhada em simultâneo com a circulação de algumas "bocas", segundo as quais o Centro não era nada da TPA, mas sim do Ministério.
A Ministra soube por outro lado que era do seu Ministério que, na gestão anterior, chegavam à TPA muitos pedidos, do tipo ordem superior, para empregar pessoas na Televisão sem qualquer qualificação.
O jornalista que lhe prestou esta informação apontou na ocasião o dedo acusador para os membros do MCS que se encontravam presentes na sala.
A propósito destas ordens, a Ministra ficou ainda a saber que o "presidenciavel" Gonçalves Inhanjica é o jornalista da TPA a quem já foi dada a alcunha de "Sr. Ordens Superiores", devido ao facto do mesmo as evocar com bastante frequência para justificar algumas "tesouradas", a mais visível das quais foi a súbita interrupção o ano passado, sem qualquer explicação fornecida aos telespectadores, de um seriado de 10 capítulos sobre a história da guerra angolana elaborado por Isidro Sanhanga e que custou aos cofres da empresa alguns largos milhares de dólares com deslocações ao estrangeiro.
Carolina Cerqueira ficou também a saber que o único programa que a TPA possuía, onde ainda era possível fazer-se algum debate de ideias, o "Semana em Actualidade" de Antunes Guanje transmitido aos domingos, foi igualmente retirado da grelha sem qualquer explicação, agora depois do CAN ter terminado.
Este programa, note-se, era uma verdadeira espinha atravessada na garganta da direcção da TPA, sendo conhecida a aversão que era dedicada ao mesmo pelos censores da banda.
A resposta, algo esfarrapada, dada pelo interino Helder Barber a esta questão, foi de que teria havido apenas uma suspensão do programa por razões técnicas e que logo que possível o "Semana em Actualidade" voltaria ao convívio dos telespectadores.
Barber que é uma outra herança do passado (ele foi durante o consulado de MR uma espécie de tarefeiro, de pau para toda a obra), acabou por pedir desculpas à Ministra por não ter sido dada a devida explicação ao público.
A ver vamos...
A concluir mais esta "jornada de campo", a Ministra anunciou que está a encarar com bastante urgência a necessidade de se nomear uma nova direcção para a TPA, que continua a ser gerida por confusas estruturas interinas criadas o ano passado, de forma algo atabalhoada, por Manuel Rabelais com o fito de reestruturar a estação, com recurso a uma forte componente estrangeira, proveniente de Portugal.
Este desenvolvimento, note-se, acabou por aprofundar ainda mais a "balcanização" da Televisão, depois da gestão do Canal 2 e da TPA Internacional ter sido entregue em 2008 de mão beijada aos irmãos Dos Santos, na sequência de uma das mais polémicas decisões tomadas por MR.
Todo este "projecto" parece estar agora seriamente comprometido, enquanto se aguarda pelo nome do "coelho" ou da "coelha", que a nossa Carol se prepara para tirar da sua "cartola", com a difícil missão de trazer a TPA de volta aos carris de uma gestão realmente a altura de um serviço público de televisão independente e qualitativamente competitivo, de acordo com o novo compromisso constitucional, assumido pelo Estado angolano.
O que aconteceu até agora na TPA é para esquecer...